Produção brasileira de café determinará o balanço global do mercado
Especialista em agronegócios fala sobre as perspectivas para o agronegócio café durante a Fenicafé
Maior produtor mundial de café, o Brasil tem estoques suficientes para garantir o abastecimento apesar dos recentes problemas climáticos que afetaram os cafezais, embora a logística continue trazendo dificuldades. Sendo assim, é a produção brasileira que determinará o balanço global do produto no mercado. É o que garante César Castro Alves – especialista em Agronegócios do Itaú BBA, que participou da 25ª edição da Fenicafé – Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura.
“Sob a ótica da oferta, ainda não vislumbramos uma safra normal de café arábica no Brasil no próximo ano safra 2022/23, que começará em poucos meses, em função dos estragos causados pela seca no ano passado e pelas geadas, que atingiram principalmente os cafés do sul de Minas. Ainda assim, apesar de o próximo ciclo ainda ser abaixo do potencial do arábica, será uma safra um pouco maior que a do ano passado, por ser ano de bienalidade alta no caso do arábica”, explica o especialista que falou sobre “Perspectivas para o agronegócio café no Brasil e no mundo” no primeiro dia da feira.
O aperto maior do balanço global entre oferta e demanda ocorre agora, até a entrada da próxima safra em comercialização, a partir do segundo semestre. “Com isso, a tendência é que a exportação do Brasil ainda apresente números relativamente fracos até que a safra nova chegue. Com relação aos demais países produtores, não observamos perspectiva de reduções, talvez a Colômbia apresente leve redução, mas isso fará pouca diferença do agregado pois a produção colombiana equivale a pouco mais de 20% do total do Brasil. Portanto, é o cenário de produção do Brasil que, em grande medida, determinará o balanço global”.
Por outro lado, sob a ótica da demanda, a guerra trouxe uma incerteza com relação ao consumo daqui pra frente nos países envolvidos e até para o bloco europeu, o que acabou pesando um pouco sobre os preços de café. “Não está claro que o consumo será de fato afetado, exceto na Rússia e na Ucrânia que podem ter sim alguma redução”.
Custos de produção em alta - O mercado já precificou a quebra de safra do ano passado e também a próxima abaixo do potencial, o que significa que o produtor deveria lançar mão de ferramentas de proteção contra eventuais quedas, principalmente porque os custos de produção subiram muito e não devem ceder em função dos riscos do abastecimento mundial de fertilizantes e combustíveis caros. “Os preços atuais de café ainda são remuneradores, mas o resultado ao produtor pode ficar pior caso os preços cedam mais adiante. Por isso é importante se proteger”.
“Já estamos vendo muita instabilidade nos insumos e estamos particularmente preocupados com a elevação dos preços dos fertilizantes e até o risco de não termos toda nossa necessidade, principalmente de potássio”. Neste cenário, será importante o produtor avaliar bem suas necessidades de adubação, buscar otimizar o uso do insumo avaliando o potencial de cada lavoura para o próximo ano.
A guerra entre a Rússia e Ucrânia também tem influenciado o mercado, “mesmo que uma solução não demore a vir, pois as sansões devem seguir dificultando a importação de fertilizantes da região do Mar Negro e os efeitos inflacionários da guerra irradiando para o mundo todo (alimentos, energia e metais) podem impactar o crescimento econômico e em última instância prejudicar até prejudicar um pouco o consumo de café”.
Mercado brasileiro - O mercado está “travado”, mesmo o café atingindo um alto preço. O produtor tem segurado o produto na esperança de conseguir um preço ainda melhor. Mas, para César Castro Alves, é arriscado esperar demais, pois o mercado tende a antecipar a visão de uma possível boa safra em 2023 já que o clima desde as floradas do ano passado está satisfatório. Sem contar que o agronegócio foi um dos poucos setores que cresceram durante a pandemia no Brasil.
Na visão do especialista, isso se deve porque primeiramente todos precisam se alimentar, mas também porque houve uma maior valorização dos alimentos no ato de preparar as refeições em casa. “Além disso, o país conseguiu manter as cadeias agroindustriais em pleno funcionamento, mesmo com as restrições impostas pela pandemia. O produtor não parou, nossas fábricas não pararam e enquanto alguns países reduziram excedentes exportáveis no sentido de formarem estoques preocupados com desabastecimento, o Brasil ampliou as exportações se posicionando com um país produtor de grande capacidade de resposta à demanda mundial, o que foi muito positivo. Mas tivemos também um pouco de sorte devido ao fato de a pandemia ter chegado no país um pouco depois do Hemisfério Norte, de modo que pudemos aprender com o que ocorreu na produção de alimentos lá fora, que foi impactada. A produção de carnes dos EUA, por exemplo, sofreu muito com o avanço do vírus nas linhas de produção e nós nos preparamos melhor e conseguimos não interromper a produção nas fábricas”.
Busca por conhecimento - É nítida a busca crescente do produtor por informação e isso é essencial para sua sobrevivência no mercado a longo prazo. A adoção tecnológica começa na troca de experiência, o que leva ao aumento da produtividade e consequentemente permite diluir os custos de produção por saca produzida. “O crescente aumento da produção brasileira de café, mesmo com a área caindo, reflete justamente o avanço tecnológico e isso continuará. Razão pela qual o produtor também deve buscar sempre melhorar seus processos no sentido de ser mais eficiente naquilo que faz. Só o clima, cada vez mais desafiador com eventos extremos, tem restringido a produção de café, como na última safra e com efeitos ainda na próxima, mas também há maneiras de, até certo ponto, mitigar esses riscos. Por isso a informação é importante, não somente na técnica produtiva mas também nas estratégias comerciais”, finaliza.
A Fenicafé se divide em três partes: o 25º Encontro Nacional de Irrigação da Cafeicultura do Cerrado, 22º Simpósio Brasileiro de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada e a 24ª Feira de Irrigação em Café do Brasil.
A feira é promovida pela Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA) e a Federação dos Cafeicultores do Cerrado com apoio da Embrapa Café.
Fenicafé 2022 - Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura