Irrigação e o desenvolvimento do cafeeiro: impactos na florada e maturação dos frutos

Segundo o especialista, as gemas reprodutivas do cafeeiro passam por um período de diferenciação entre os meses de janeiro e junho, atingindo seu pico em março

A influência da irrigação sobre o cafeeiro é um fator determinante para a produtividade e qualidade da lavoura. É o que afirma o engenheiro agrônomo e professor Dr. José Donizeti Alves, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), durante palestra sobre fisiologia do cafeeiro realizada na Fenicafé – Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura, que acontece até o dia 10 de abril em Araguari, no Triângulo Mineiro.  Na ocasião, foram discutidos os efeitos da irrigação nos diferentes ciclos fenológicos da planta, com ênfase na conciliação entre irrigação, florada e maturação dos frutos.

Segundo o especialista, as gemas reprodutivas do cafeeiro passam por um período de diferenciação entre os meses de janeiro e junho, atingindo seu pico em março. “As primeiras gemas seriadas, situadas na axila das folhas, são as primeiras a florescer, compondo a florada principal. Gemas subsequentes geram floradas menores, em etapas distintas, entre setembro e novembro”, explica.

A irrigação, então, desempenha um papel crucial nesse processo ao influenciar os níveis hormonais da planta. Durante o período seco do inverno, as gemas entram em dormência devido ao aumento do ácido abscísico (ABA). Com a irrigação, ocorre a redução desse hormônio inibidor e o aumento de auxinas, giberelinas e citocininas, promovendo o desenvolvimento e a abertura das flores. Esse mecanismo hormonal, impulsionado pela irrigação, favorece uma florada mais uniforme e sincronizada, contrastando com a ocorrência de múltiplas floradas descoordenadas em sistemas dependentes exclusivamente das chuvas.

Além da florada, a irrigação também impacta diretamente a maturação dos frutos. Em condições de estresse hídrico severo, há um aumento na síntese de etileno, hormônio que acelera a maturação, resultando em frutos secos na planta e comprometendo a qualidade da bebida. O controle da umidade também reduz a incidência de frutos chochos e preserva o metabolismo de carboidratos, essencial para a formação de compostos responsáveis pelo aroma e sabor do café.

Outro aspecto relevante abordado pelo professor Dr. José Donizeti Alves é a contribuição da irrigação na prevenção da queda de folhas e na proteção dos frutos contra o estresse térmico e oxidativo, fatores que podem levar à escaldadura e à perda de produtividade.

“Dessa forma, o manejo adequado da irrigação surge como uma estratégia fundamental para otimizar a produção cafeeira, garantindo não apenas um melhor desenvolvimento da planta, mas também a qualidade final do café, fator essencial para agregar valor ao produto e maximizar a rentabilidade do produtor”, completa.